21 de março de 2011

Saudade...


“ – Nunca aconteceu a você de querer desenhar ou construir alguma coisa e não conseguir fazer isso direito? 
Você tenta mais uma vez, tenta outras vezes, mas nunca dá certo. 
Isso se explica pelo fato de que a imagem que você tem do que quer fazer sempre é incomparavelmente superior às cópias a que você tenta dar forma com as mãos. 
E o mesmo ocorre com tudo o que vemos à nossa volta. Trazemos dentro de nós a noção de que tudo o que vemos à nossa volta poderia ser melhor do que é. 
E sabe por que fazemos isso (...)? Porque trazemos em nós todas as imagens do mundo das ideias. É lá a nossa verdadeira morada. E não aqui embaixo, no meio da areia, onde o tempo apanha e devora tudo o que amamos.”

Jostein Gaarder “O dia do Curinga”



E assim, nada lhe era bom o bastante.

Era invadida constantemente por uma saudade-vontade de um ‘indescritível inefável’.
Como explicar?

Chegava mesmo a, por vezes, acreditar estar perdendo a tão estimada sanidade. Um medo que lhe era estranhamente peculiar.

Pensava se todos eram assim. Quase sempre cria que não.

Para ela, estava claro que aquele não era seu lugar original.
Nem por isto vivia alheia ao que lhe cercava. Encontrava-se vez ou outra em olhos distantes de outrens. Confortava-se num quase imperceptível chilrear.

Queria mais e, ao mesmo tempo, apenas o necessário.

Explicar esta lógica aos que lhe eram próximos, no entanto, era uma tarefa demasiadamente exaustiva. Não sabia ao certo se não queriam ou se, simplesmente, não conseguiam entender o que lhe inquietava o coração. E com isso não conseguia distinguir o que realmente sentia a respeito.

Às vezes, era subitamente arrebatada ao seu mundo. A música era sua aliada quando a alma sentia falta do ninho. Alguns acordes faziam-na tremer.

E vivia.

A sentir o que lhe fora dado a sentir.

Com a alma sedenta e os olhos marejados de saudade.






Naiana Carvalho



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