27 de novembro de 2012

Poesia e canção

Ilustração de André Rodrigues



Do que se alimenta a poesia? 
O que come uma canção? 
Se é a alma que transcende e sobeja em tênues linhas 
                                                                          ou se é fruto de empenho e dedicação, 
não se pode definir assim tão facilmente, 
                           encaixar levianamente 
                                                          em qualquer frágil padrão. 

Sei que algumas simplesmente nascem, 
                     brotam,  
                               florescem 
mesmo em árido chão, 
enquanto outras precisam ser construídas, 
                      lapidadas 
             da primeira estrofe 
                   até o refrão. 

No entanto não importando sua natureza, 
os meios de cultivo 
ou a forma de extração, 
é uníssono que são fundantes de mais rico processo de transformação.




Naiana Carvalho


22 de novembro de 2012

Nada me é alheio

Ilustração de Weberson Santiago




já dei nome de anta, já levei nome de bruta
já me tomaram por santa, já me fizeram de puta
já sonhei em pleno dia, já vi sol em noite escura
já lamentei em casamento, já sorri em sepultura
já quis o improvável, já desejei não ter mais cura
já dormi em berço esplêndido, já passei noite na rua
já defendi o que é concreto, já estudei ciência oculta
já jurei pela verdade, já me rendi ao que simula
já roubei caneta bic, já fingi na cara dura
já desisti de ser pra sempre, já venci muita disputa
já desafiei a gravidade, já desafinei em nota aguda
já dancei Beto Barbosa, já dormi com o Neruda
já gritei por liberdade, já fui alvo de censura
já fui aquele que oscila, já almejei o que perdura
já sofri pelas respostas, já morri pela loucura
já amei o que encontra, hoje sou o que procura.



Naiana Carvalho




"E é tão bom não ser divina"







21 de novembro de 2012

À madrugada


Ilustração de Morena Forza


Madrugada, 

que traga alento à contento
por medida o cabimento;
E ao pensamento em devaneio,
descanso em doce leito

Hoje, não arda
Tarde em clarear
porque o sol não desponta sem teu consentimento

Então fica,
cumpre teu papel,
usa dos teus instrumentos,
lápis, pena ou cinzel,
e grava na mente vaga,
nas mãos espalmadas
aquela lembrança que é válida...
a memória cálida
esparsa
de que tudo pelo que se vive
um dia 
enfim
sempre acaba.



Naiana Carvalho



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