Ilustração de Lieserl.
"... sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo condizia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"
Eça de Queiroz
Brincava com as palavras.
Tecia rimas. Falava em métricas.
Mergulhava em si. em lá. em dó.
E a leitura lhe soava re-encontro.
Era estranho ver-se acordada e com isto satisfazer-se quando por tanto tempo o que mais almejou foi o sonhar.
O idílio. O porvir. O partir.
De olhos absortos mal cria no espetáculo que despontava a sua frente.
Diariamente.
Era a chuva. Areia e mar. O novo acorde. A velha esquina de muros coloridos.
Tudo ali. Para si. A fim de tornar-lhe a existência real.
Diariamente.
Era a chuva. Areia e mar. O novo acorde. A velha esquina de muros coloridos.
Tudo ali. Para si. A fim de tornar-lhe a existência real.
Deliciosamente banal.
Os sentidos, aguçados, captavam cada instante, na tentativa - mesmo sabida vã - de dourar seus momento com as cores da eternidade. Era-lhe doloroso racionalizar que tudo o que sentia seria a pouco resumido como mais um momento sobre o sol. Assim, fechava os olhos, Num ingênuo esforço de gravar em si aquela enxurrada de saborosas sensações.
No entanto, apesar da dor, não mais sofria. Passava a compreender que a beleza dos instantes encontra-se justamente na efemeridade.
E sorria de si.
E era grata pelo que lhe fora dado sentir.
Coberta "de um luxo radioso de sensações!"
Sobejava o que antes era ausência.
E da agonia fez-se acalanto.
De macambúzio a ditirâmbico.
Naiana Carvalho
"Congela o tempo pr'eu ficar devagarinho
com as coisas que eu gosto
e que eu sei que são efêmeras
e que passam perecíveis
que acabam, se despedem,
mas eu nunca me esqueço."
Tulipa Ruiz