16 de março de 2011

Apenas palavras. Apenas?



“Escrever é fácil. Você começa com maiúscula e termina com ponto.
No meio coloca as ideias.”
Pablo Neruda


Tá bom, Neruda, mas a questão é: e como organizar tantas ideias?

Para se escrever é preciso esmero.
Tratar bem as palavras, fundamental. Qualquer deslize, ausência ou exagero, pode corromper todo o sentido a que se propunha.
Neste jogo, a ordem dos fatores pode alterar completamente o produto.

Dentro de mim, ideias. Mundo difuso.
Confuso.
Sempre é confuso enquanto não ganha corpo. No caso, enquanto a ideia não se torna palavra. Enquanto o pensamento não se verbaliza ou é transcrito em signos.

Sobre o que escrever? Acordo borbulhante de ideias, mas elas me fogem.
                                     – “Opa! Esta é boa, preciso apanhá-la!”


Hoje acordei com uma série de ideias pairando sobre a minha cabeça. Puxaram meu lençol, fizeram uma algazarra dentro de mim. Algumas, mais agitadas, desordeiramente me saiam do controle em sentenças mal estruturadas. Outras, tímidas, mas não menos valorosas, educadamente erguiam a mão à espera de serem notadas, num breve movimento, mas cega pela visão, acabei por não percebê-las, e fugiram.
Constato: é difícil trabalhar com tantas ideias, tão divergentes entre si, ao mesmo tempo. Ainda mais quando são estas de caráter tão livre... não respeitam ordem de chegada, tampouco filas ou senhas. Domá-las é um desafio. Estarei pronta?

Acho que por isso muitos fogem das ideias. Afinal, são desordeiras e quase nunca passivas. Rubem Alves, um de meus escritores preferidos, fala muito sobre a alegria de pensar, mas confesso que nem sempre pensar me alegra.
Instiga.
Isto sim.
Sempre!
Tenho outras teorias acerca dos “não pensantes”. Uma delas: a cegueira.
Esbarram, tropeçam nelas, a todo momento – afinal, estão por toda parte – têm até ninhos em seus ombros e cabeças, mas não as percebem, não lhes sentem o cheiro nem a presença.
Estão dormentes.
Ou quem sabe, encantados.
Melhor dizendo, estão desencantados.

Encantar-se. Tem nos faltado o encanto.
Encantar-se com o comum. Afinal, quem determinou ser algo comum ou não? Ser comum ou não depende de onde e em que contexto algo está.

É preciso limpar melhor nossos olhos.
É, talvez seja mesmo culpa da correria da vida. Acordamos tão cedo e já atrasados.
Então saímos por aí, completa ou parcialmente às cegas. É neste instante que tudo começa, ou, é exatamente neste ponto que tudo deixa de acontecer.



Naiana Carvalho


por Liniers - Macanudo

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