19 de fevereiro de 2013

Vertigem




Ilustração de André Rodrigues



Acepipe da vida
A Terra em rotação
Lonjura tátil
Desfeita em pedaços
Sem pontual premeditação



Por acaso chegara ao topo
Por descuido, à beira
Tomou-lhe a privação de sentidos
Em plena manhã de quarta-feira


Vertigem
O chão salta aos olhos
E do alicerce faz-se papelão
Feito paixão sem aviso
Comprometido o juízo
Corrompida a razão


Adormecidas as extremidades
De olhos baços
Coração em sobressaltado
Gravidade, lei
Desvario, definição
Rubra tinta vermelha
Feito tela
Tinge o raso chão


Fora atraído pelo limite
Envolto de forma sutil
Turvada a rala visão
A cabeça em rodopio
Mesmo não havendo motivos
Ou genética predisposição


Houvera quem julgasse
De tropeço, queda, a solução
Profanando a origem
Da atraente vertigem
Fascínio, inclínio, propensão


Sem bilhete ou testamento
Perdia-se o nexo
Faziam-se perplexos
Em frágeis elocubrações
Pois sabiam-no feliz
Tinha casa, carro, emprego
E um alto limite no cartão

Estava de férias programadas
E viajaria em família
Tão logo chegasse o verão





Naiana Carvalho





"...e tropeçou no céu como se fosse um bêbado
...e flutuou no ar como se fosse um pássaro"
Chico Buarque





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