7 de outubro de 2012

O outro

Ilustração de  Alan Carline



Não houve reciprocidade na troca de olhar, o que fomentou a paixão. Encarava-o ali, entre tantos, e displicentemente tomou-o à mão. Já o via seu. E julgava estar escrito. Era mais uma daquelas inexplicáveis atrações que lhe ocorria. Não era a primeira vez. Sequer seria a última. Percebia que diante de si, mais um caso furtivo nascia. Seduzida.
O convencimento do outro para a concretização daquele flerte não era necessário. Ele estava ali, e apesar de sua mudez, era notório que havia muito dentro de si à espera da revelação. Mas não mostrava-se facilmente. O que tornava o desejo por sua posse algo ainda mais arrebatador. Desvelar. Do querer ao precisar. Possuir versus conquistar.
Mas não. Ali não. 
Aquele encontro não marcado, já agora necessário, inspirava um outro cenário. Inspirava madrugada e mar. Um deleite em lenta solidão a dois. Para se fazer valer, comungar da reclusão. Íntima comunhão. Para tanto não pediu consentimento. Dispensadas as juras eternas, fê-lo seu e, da mesma forma como viu-se tomada, tomando-o para si, aconteceu. Dando o devido cabimento àquele súbito desejo voraz, permitiram-se amantes; sendo felizes até que findassem as páginas daquele fugaz romance.
Segredos desvelados, nuances aplainadas, esperado, o incontido querer feneceu. E assim, em pleno verão, o que antes era fogo, arrefeceu.


Naiana Carvalho


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